terça-feira, 2 de outubro de 2012

Mas acho que eu nunca fui muito de dizer mesmo. Eu tenho medo de que eles saibam mais do que eu, sobre mim. E minto. Eu costumava sentar naquela velha escada de madeira do lado de fora da sua casa, aquela da porta dos fundos. Passei quase todas as madrugadas por lá durante o ano todo depois que te levaram. Na maioria das vezes eu apoiava a cabeça nos joelhos e ainda sentia seus lábios na minha nuca. Eu sentia seus dedos gelados passando pelo meu braço, subindo até o pescoço. Cheguei até a me acostumar com as horas que nunca passavam, o dia que nunca nascia, e, me acostumei a ver as coisas por outro lado e tudo. O tempo parou no dia vinte e cinco de junho de qualquer ano e as vezes, mas só de vez em quando eu tenho a impressão de que ele ainda não voltou a passar. Me lembro bem daquele dia. Eu tinha acordado cedo e preparado um café meia boca, café não, um leite com achocolatado e duas torradas. E fazia um frio danado, coloquei uns três casacos e uma calça de malha por baixo do jeans. Meu pai tirou o velho fusca da garagem, me levou até o colégio, e me deu uns trocados. Depois de alguns minutos, uns dez minutos ou menos, sua mãe me ligou e eu ouvia mais barulho de buzinas do que sua própria voz, mas foi fácil perceber pelos soluços que ela estava chorando e não era pouco. Pois é, meu amor. Foi numa merda de curva naquela merda de cidade que mais chovia do que qualquer outra coisa. Só sei que eu passei quase todas as madrugadas por lá durante o resto do ano. Naquela escada de madeira, vendo o mundo de lado.

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